sábado, 29 de novembro de 2008

O SEMPRE E O DE VEZ EM QUANDO

Outro dia alguém pinçou uma de minhas afirmações para afirmar que eu não acredito em milagres. A afirmação que fiz foi que Deus deseja fazer algo em nós, e não necessariamente por nós. De fato, representa muito do meu pensamento: a principal obra de Deus no humano é a conformação do humano à imagem de seu Filho Jesus, que Paulo, apóstolo, chama de “primogênito entre muitos irmãos”. Mais do que fazer coisas boas para o ser humano, Deus está comprometido em transformar o ser humano, ainda que isso custe deixar ou permitir que coisas ruins aconteçam a este ser humano em processo de transformação. Deus não atua no ramo de “conforto para os fiéis”. Deus atua no ramo de transformação do humano à imagem de Jesus Cristo.
Daí a extrapolar que eu não acredito em milagres é um pulinho. Confundir a ênfase da minha teologia – “Deus faz em nós, e não necessariamente por nós”, com “Deus nunca faz nada por nós”, é até compreensível.
Na verdade, o que pretendo dizer é melhor compreendido quando se dá atenção ao “não necessariamente”: Deus deseja fazer algo em nós, e não necessariamente por nós. Sublinhe o “não necessariamente”. Isso significa que Deus pode fazer e pode não fazer, e que o fazer ou deixar de fazer é imponderável, afetado por muitas variáveis que extrapolam o nosso controle e nosso entendimento. O que acredito, portanto, é que Deus sempre deseja fazer algo em nós, mesmo quando não faz algo por nós. Deus está sempre agindo para nossa transformação, mesmo quando não atua em nossas circunstâncias.
Por esta razão, minha conclusão é óbvia e simples: não devemos pautar nosso relacionamento com Deus na expectativa de que Ele faça algo por nós, mas na certeza de que Ele deseja fazer algo em nós. Quando Ele faz algo por nós, amém, quando não faz, amém também. O que não podemos permitir é que a expectativa de que Ele faça algo por nós nos deixe cegos ou imobilizados para o que Ele quer fazer em nós.
A maioria dos cristãos baseia seu relacionamento com Deus na dimensão “por nós”: o Deus de milagres, o Deus de poder. Alguns poucos baseiam seu relacionamento com Deus no “em nós”: o Deus de amor que nos constrange a viver para Ele e não para nós mesmos, onde viver para Ele implica sempre morrer para si mesmo, tomar a cruz e meter o pé na estrada. O milagre é problema (ou solução) de Deus. A fidelidade é problema meu. Atuar em minhas circunstâncias é o imponderável do mistério de Deus. Atuar em mim é o essencial do propósito de Deus. Você escolhe a base de sua relação com Deus: aquilo que pode acontecer ou não – o milagre, ou aquilo que certamente acontece – a transformação.
Texto de Ed René Kivitz (Fonte:http://outraespiritualidade.blogspot.com)

VERGONHA


Por Rui Barbosa, escrito em 1914
A FALTA DE JUSTIÇA, Srs. Senadores, é o grande mal da nossa terra, o mal dos males, a origem de todas as nossas infelicidades, a fonte de todo nosso descrédito, é a miséria suprema desta pobre nação.A sua grande vergonha diante do estrangeiro, é aquilo que nos afasta os homens, os auxílios, os capitais.A injustiça, Senhores, desanima o trabalho, a honestidade, o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vêm nascendo a semente da podridão, habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a desonestidade, promove a venalidade, promove a relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas.De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.Essa foi a obra da República nos últimos anos. No outro regime (na Monarquia), o homem que tinha certa nódoa em sua vida era um homem perdido para todo o sempre, as carreiras políticas lhe estavam fechadas. Havia uma sentinela vigilante, de cuja severidade todos se temiam e que, acesa no alto (o Imperador, graças principalmente a deter o Poder Moderador), guardava a redondeza, como um farol que não se apaga, em proveito da honra, da justiça e da moralidade.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Carta aberta aos músicos cristãos

Por Brian McLaren
Saudações, colegas compositores, adoradores, líderes de louvor, músicos, artistas e seguidores de Jesus.Durante os últimos anos, tive o privilégio de passar bastante tempo “na estrada”, falando, com e para jovens líderes emergentes. Eu suponho que tenha sido convidado porque muitos desses líderes emergentes estão lutando com a desafiante realidade da pós-modernidade - uma realidade cujo enfrentamento me fez perder muitos fios de cabelos - e sobre a qual eu já escrevi alguns livros. Em meu contexto de origem, sou um pastor servindo a uma igreja que se comprometeu em viver a transição pós-moderna e enfrentar as questões que ela apresenta de uma forma ousada e confiante. Quando digo “ousada e confiante”, estou bastante ciente de que não existem até agora mapas que nos guiem nessa aventura - portanto, não temos uma idéia clara de para onde estamos indo, mas apenas a certeza de que estamos procurando seguir a Jesus. Sentimo-nos mais ou menos como o povo de Israel saindo do Egito da modernidade, e cruzando o mar em direção a um deserto desconhecido... Confiamos, no entanto, que uma coluna de nuvem e uma coluna de fogo nos conduzirão durante o dia e à noite.
Um dos benefícios de viajar é a oportunidade de conhecer coisas novas. Como músico que também sou, tenho gostado de conhecer e escutar dúzias de bandas e líderes de louvor, e também de passar horas, literalmente, em quase todos os eventos dos quais participo, sendo conduzido em adoração. De tudo que tenho conhecido e ouvido, existem muitas coisas que eu poderia me imaginar compartilhando com vocês, líderes de louvor. Existem, com efeito, inúmeras tendências encorajadoras ao lado de alguns poucos problemas persistentes. Mas uma coisa sobressai às demais: ela é, na verdade, um pedido mais do que qualquer outra coisa. Um pedido dirigido aos compositores em nosso meio para que explorem - e depois nos guiem em direção a - novos territórios espirituais e poéticos.
Com freqüência, ouvimos reclamações concernentes à pobreza das músicas, a monotonia das letras, a estreiteza teológica no universo da música cristã contemporânea. Algumas dessas reclamações vêm de pessoas que secretamente desejam que nós voltemos a cantar hinos como eles faziam nos anos 50 (se 1850 ou 1950, você decide). Eu não estou interessado em reclamações, e tenho pouco interesse nos anos 50 (exceto, talvez, em 2050). Não. Aqui está o que eu ando perseguindo: muitos de nós acreditamos que estamos entrando (ou talvez já estejamos lá) um período de transição teológico/cultural/espiritual significativo; possivelmente tão significativo historicamente quanto o período da Reforma, quando o mundo medieval deu lugar ao mundo moderno. Agora, à medida que o mundo moderno dá lugar ao mundo pós-moderno, não devíamos nos surpreender se presenciássemos uma revolução teológica (ao final da qual, nos tornássemos mais bíblicos, mais espirituais, mais eficientes em nossa missão - e, Deus, por favor - mais esclarecidos com respeito àquilo em que ela consiste, ao que ela é). Mas aqui reside o problema.No mundo moderno, a teologia era praticada por acadêmicos eruditos, e podia ser encontrada em livros e preleções. No mundo pós-moderno, muitos de nós acreditamos que os teólogos terão de sair mais freqüentemente das bibliotecas e se misturar ao restante de nós. E os melhores dentre eles darão as mãos aos poetas, músicos, cineastas, atores, arquitetos, decoradores, paisagistas, dançarinos, escultores, pintores, romancistas, fotógrafos, desenhistas gráficos e todos os outros tipos possíveis de irmãos e irmãs envolvidos com a arte. E isso, não apenas para comunicar uma teologia cristã pós-moderna, mas também para discerni-la e até mesmo para descobri-la. Porque uma das maiores mudanças dessa transição é a mudança do paradigma da utilização do lado esquerdo do cérebro apenas, para o paradigma da utilização do cérebro inteiro. Uma mudança de um racionalismo analítico e reducionista para uma perspectiva teológica mais abrangente e integral - uma teologia da mente e do coração, do entendimento e da imaginação, da palavra e da imagem, da inteligibilidade e do mistério, da explicação e da narrativa, da exposição e da expressão artística. Nossos compositores poderiam exercer um papel espiritual-chave no enraizamento desse tipo mais integral de teologia na experiência da fé de nosso povo.
Mas, tristemente, o que eu tenho percebido nas extensas horas de adoração em que tenho participado ao redor do país, é que muito raramente as letras de nossas músicas têm nos conduzido a esse novo território. Ao contrário, de algumas maneiras, as letras de nossas músicas têm nos mantidos presos ao corriqueiro e comum. Por favor, não escutem estas palavras como mero criticismo, mas como um pedido - um pedido gentil, mas honesto e apaixonado - por mudança. Sendo mais específico: uma quantidade demasiadamente grande de nossas canções é constrangedoramente personalista, sobre mim e Jesus. Ora, intimidade pessoal com Deus é um passo maravilhoso para além da mera repetição fria, abstrata e estática do dogma; mas não é tudo. De fato - isso talvez choque você - no novo e emergente mundo pós-moderno, intimidade com Deus não é necessariamente o ponto principal. Uma canção de adoração que tenho ouvido em muitos lugares nos últimos anos diz que a adoração é “toda a seu respeito, Jesus”, porém, com exceção desta frase, a sensação que temos é que a adoração - bem como o cristianismo em geral - tem se tornado cada vez mais acerca de “mim, mim e mim”.Se você duvida do que estou dizendo, preste atenção na próxima vez em que estiver cantando na igreja. As canções dizem respeito à maneira como Jesus me perdoa, me abraça, me faz sentir sua presença, me fortalece, me mantém perto dele, me toca, me aviva etc. E não há nada de mal em tudo isso. Mas se um extraterrestre oriundo de Marte viesse nos observar, eu acredito que ele diria uma dessas duas coisas sobre nós: ou (a) que essas pessoas são todas meio disfuncionais e necessitam de muita terapia do abraço (o que é irônico, pois estamos entre as pessoas mais privilegiadas do mundo, tendo sido, de todas as maneiras, mais abençoadas do que qualquer outro grupo na história); ou (b) que eles não se importam nem um pouco com o resto do mundo, que a religião/espiritualidade deles os faz tão egoístas quanto um não-cristão, mas em relação às coisas espirituais apenas e não tanto em relação às coisas materiais.
Eu não acredito que nenhum destes juízos seja tão verdadeiro quanto eles soariam aos ouvidos de um marciano. Ao invés disso, penso que nós compositores continuamos escrevendo canções desse tipo porque acreditamos que isso seja o que as pessoas desejam e necessitam. O assustador, no entanto, é saber que ainda que estes juízos não sejam completamente verdadeiros, eles poderão vir a sê-lo, a menos que tomemos algumas ações corretivas e busquemos um maior equilíbrio. É constrangedor admitir, mas, alguns de nós devem estar pensando nesse momento: “Se a composição de músicas espirituais não diz respeito apenas à temática da intimidade profunda e pessoal com Deus, a que mais ela diz respeito?”
Permitam-me oferecer uma lista de temas bíblicos que faríamos bem em explorar em nossas letras:
1. Vocês ficarão surpresos ao lerem em primeiro lugar que deveríamos explorar o tema da “Escatologia”. É preciso antes esclarecer que não quero dizer com isso que deveríamos adaptar para música o último romance apocalíptico (não, por favor; isso não!). Por escatologia (que significa o estudo do fim ou destino para o qual o universo se orienta), eu entendo a visão bíblica do futuro de Deus o qual está nos atraindo para si. Para muitos de vocês, criados como eu nas escatologias da modernidade tardia, será uma surpresa saber que existe uma abordagem totalmente nova à escatologia em emergência atualmente (liderada por alguns teólogos como Walter Bruegeeman, Jurgen Moltmann, e os “teólogos da esperança”). Esta abordagem não deixa espaço para especulações sensacionalistas e previsões trêmulas. Ao contrário; ela se banha na poesia bíblica de Isaías, Jeremias, Apocalipse... poesia na qual, uma vez interiorizada, planta em nós uma visão de um mundo muito diferente deste nosso e para melhor. E quando esta esperança cresce e cria raízes em nós, tornamos-nos seus agentes. Que alegria profunda poderia ser expressa em cânticos que captem o espírito de Isaías 9.2-7; 25.6-9; 35.1-10; 58.5-14! Quem irá escrever esses cânticos? Eles necessitam ser escritos porque as pessoas precisam de esperança. Elas precisam da visão de um futuro melhor. Elas precisam ter suas imaginações povoadas por imagens de celebração, paz, justiça e plenitude na direção das quais nosso mundo triste, beligerante, poluído e fragmentado se move e caminha. Esta esperança não se traduz por imagens etéreas de um outro mundo fora e acima desse nosso. Ela é algo muito, muito maior do que canções sobre mim no céu. Compositores: mergulhem nessas passagens... e permitam que seus corações sejam inspirados para escrever cânticos de esperança, cânticos de visões, cânticos que hospedem em nossos corações o sonho de um futuro que há muito foi esquecido... o sonho da vinda do reino de Deus, da vontade de Deus sendo realizada na terra como é realizada nos céus.
2. Vocês talvez fiquem igualmente surpresos ao me ver sugerir que nós precisamos de cânticos de missão. Muitos de nós acreditamos que um novo e maior sentido de missão seja o elemento-chave necessário para que entremos no mundo pós-moderno. Mas não falo apenas de missões, nem tampouco de evangelismo. Falo de missão - de participarmos na missão de Deus, no reino de Deus, que é muito maior e mais grandioso do que nossos pequenos esquemas organizacionais de auto-engrandecimento. Tal sentido de missão põe em cheque o fundamento de nossa cultura consumista orientada para “mim, mim e mim” e para as coisas que me dizem respeito. Jesus veio não para ser servido, mas para servir. E assim como Ele foi enviado, Ele também nos enviou ao mundo. Na nova teologia emergente, o coração mesmo de nossa identidade como igreja não é o fato de sermos o povo que foi escolhido para ser abençoado, salvo, resgatado, e abençoado mais um pouquinho. Isto é uma meia-verdade herética, que nossas canções correm o risco de estar espalhando e enraizando mais e mais no nosso povo - de maneira inadvertida, é claro. Não, o coração de nossa identidade como igreja nessa nova teologia emergente consiste em que somos o povo que foi abençoado (como Abraão foi abençoado) para sermos bênção; abençoados, portanto, para que possamos transmitir esta bênção ao mundo.Para muitos de nós, o mundo existe para a igreja. É como se ele fosse uma enorme jazida mineral de onde as pessoas retiram riquezas para construir a igreja, que é o que realmente importa. Na nova e emergente teologia e espiritualidade pós-moderna, esta imagem é terrível. Ela espelha o estupro e o despojamento do meio ambiente por parte de nossas indústrias. Nesta imagem, a igreja é mais uma indústria, tirando e retirando para o seu próprio lucro. Quão diferente é a imagem da igreja como a comunidade apostólica enviada ao mundo como as mãos, os pés, os olhos, o sorriso, e o coração de Cristo! Precisamos de canções que celebrem esta dimensão missional - boas e muitas canções! Aqui também precisamos voltar às Escrituras em busca de inspiração. Precisamos ler os profetas e os Evangelhos e imitarmos o compromisso deles com o pobre, o necessitado, o abatido. Estes temas não deviam ser expressos em canções? Eles não são dignos de serem cantados na igreja? À medida que escrevo, sou desafiado por este pensamento: talvez nós tenhamos supervalorizado o papel da música na adoração a tal ponto - em detrimento de tantas outras opções litúrgicas (poesias, orações históricas, silêncio, leitura meditativa etc) - que acabamos nos esquecendo do papel da música em relação ao ensino. Vocês se lembram de Colossenses 3, onde Paulo fala sobre cantarmos uns para os outros os ensinamentos de Cristo?
3. Uma vez mais, vocês talvez se surpreendam por me ver recomendar que nós devemos redescobrir a histórica espiritualidade cristã e a expressarmos em canções. Como Robert Webber, Thomas Odin, Sally Morgenthaler e outros têm nos ensinado, existe uma enorme riqueza de históricos escritos espirituais, incluindo muitas belíssimas orações, que clamam por serem traduzidas em canções contemporâneas. Cada era na história tem ricos recursos a oferecer: do período Patrístico ao período Celta ao período Puritano. Em cada página de Thomas à Kempis, em cada oração dos grandes santos medievais, existe inspiração esperando por nós... e quando olhamos para as repetitivas e monótonas letras que milhões de cristãos estão cantando (porque isso, gente, é o que nós estamos compondo!) a oportunidade perdida causa tristeza no coração. Essas “vozes estranhas” irão alargar os nossos corações e enriquecê-los de forma imensurável... até que, finalmente, - se nós as convidarmos para participar de nossa adoração através das letras dos cânticos - essas vozes se tornarão vozes de amigos, de irmãos e irmãs, porque isso é o que elas são.
4. Vocês provavelmente ficarão menos surpresos quando virem minha sugestão de que nós precisamos de canções que sejam sobre Deus simplesmente... canções que dêem a Deus o lugar de destaque, por assim dizer. Canções que falem de Deus como Deus, que falem do caráter de Deus, da glória de Deus, e não apenas do excelente trabalho que Deus vem realizando fazendo com que eu me sinta bem. De modo semelhante, nós precisamos de canções que celebrem o que Deus faz pelo mundo - por todo o mundo - e não apenas por mim, ou por nós. Caso você não tenha a menor idéia do que estou falando, leia os Salmos, porque eles celebram o que Deus faz por toda a criação, não apenas pelo povo de Israel. Muitas canções das quais necessitamos também celebrarão a Deus como Criador, um tema importante nas Escrituras, mas não para a maior parte de nossas igrejas. Sentimos falta na era moderna de uma boa teologia da criação, e nessa cultura emergente, nós precisamos de compositores/artistas e teólogos que se unam para celebrar Deus como o Deus da criação, não apenas 15 bilhões de anos atrás (ou quando quer que seja), mas hoje, agora... o Deus que conhece o pardal que cai, o Deus cuja glória ainda se manifesta num raio de luz, cuja ternura ainda se precipita como orvalho da manhã, cujos mistérios são ainda comparados às profundezas dos mares e à imensidão do céu noturno.
5. Eu também devo mencionar a necessidade de cânticos de lamento. A Bíblia está repleta de canções angustiadas, mais tristes do que os mais tristes blues; canções que traduzem a agonizante distância entre o que esperamos e o que temos, o que poderíamos ser e o que somos, o que cremos e o que vemos e sentimos. A honestidade dos cânticos de lamento é perturbadora, pois nem sempre eles terminam com uma nota feliz, como nos cartões comemorativos da Hallmark. Algumas vezes penso que somos demasiadamente felizes. E neste caso, a única maneira de nos tornarmos mais felizes ainda seria tornando-nos um pouco mais tristes. Para isso, então, teríamos de sentir a dor daquele que se encontra cronicamente enfermo, desesperadamente pobre, mentalmente doente; a dor do solitário, do idoso que foi esquecido, da minoria oprimida, do órfão e da viúva. Essa dor deveria encontrar expressão em canções e tais canções deveriam chegar de alguma maneira às nossas igrejas. Quanto mais amargo nós tornarmos o que é doce, melhor. Pois sem o amargo, o que é doce se torna enjoativo. E muitas de nossas igrejas parecem, eu acredito, com a terra das guloseimas ultra-açucaradas. É pedir muito que sejamos mais honestos? Uma vez que a dúvida é parte de nossas vidas, uma vez que dor, ansiedade e frustração são parte de nossas histórias, não poderiam elas estar presentes nas canções que entoamos em nossas comunidades? Não é verdade que cantorias infindáveis acerca de coisas alegres tendem a perder sua vitalidade (e mesmo sua credibilidade) se não cantamos também nossas lutas e tristezas? Já que estou tratando dessa questão, será que poderia oferecer algumas sugestões e fazer alguns pedidos? (Novamente, não sendo crítico, mas procurando ajudar vocês com os seus dons a melhor servirem na igreja nesses tempos de transição). Gostaria de fazer isso na forma de algumas perguntas:Primeira: Posso sugerir que nós finalmente superemos o uso linguagem arcaica em nossas novas letras (rompendo com a tendência de usarmos versões antigas da Bíblia)? Ainda que nós resolvamos manter esse tipo de linguagem em nossos hinos antigos, será que poderíamos abandoná-las em nossas novas composições? Nada mais a acrescentar aqui.Segunda: Posso sugerir que sejamos cautelosos com o uso gratuito de linguagem bíblica - Sião, Israel, nas alturas etc? Se houver uma boa razão para a utilização desse tipo de linguagem - em outras palavras: se as estamos usando intencionalmente e não apenas para criar um clima espiritual - então tudo bem. Do contrário, se pudermos encontrar linguagem e simbologia contemporânea que conecte de forma profunda e imediata com as pessoas que ainda não possuem muitas horas acumuladas de banco de igreja... então, vamos usá-las no espírito de 1 Coríntios 14, onde a capacidade de se fazer inteligível é tida como uma virtude.Terceira: Posso sugerir que nessa era de fundamentalismos islâmicos, nós sejamos cautelosos em relação ao emprego de linguagem que evoque a Jihad e a guerra santa? Eu suponho que exista um tempo e um lugar para esse tipo de linguagem, mas não acredito que nem este lugar e nem o tempo sejam aqui e agora. Em minha opinião, nós agora precisamos é de uma forte dose de paz Anabatista. Quarta: Musicalmente falando, será que eu sou o único desejoso de uma maior variedade rítmica? Por que será que ultimamente eu tenho sido tão abençoado por bateristas e percurssionistas criativos em todo lugar aonde vou? Quinta: Será que nossos líderes de louvor poderiam enriquecer nossa experiência cúltica lendo textos das Escrituras, orações da igreja histórica, credos, confissões, e poemas com um pano de fundo musical? Você talvez não goste de música Rap, mas ela tem tentado nos dizer alguma coisa sobre o poder da palavra falada, isto é, a palavra falada bem escolhida (já temos palavras não-tão-bem-escolhidas demais em nosso meio - creio que você concordará comigo). Finalmente, será que nossos letristas poderiam começar a ler mais poesia (e boa poesia) a fim de que se tornem mais sensíveis ao poder da linguagem, à beleza de uma frase bem construída, ao prazer de uma imagem fresca, nova, ao susto, ou golpe, ou toque, ou surpresa possível quando se insiste um pouco mais na busca pela palavra que realmente quer ser dita, exteriorizada, pronunciada desde o nosso íntimo? Tristemente, enquanto muitas de nossas canções têm música cada vez melhor, as letras ainda se parecem muito a um “trem de clichês”, com um chavão após o outro, numa irritante reciclagem de linguagem decepcionante e sem vida. Não são o nosso Deus, nossa missão, e nossa comunidade dignos de melhor qualidade poética do que temos oferecido até agora?Obrigado por considerar estas coisas. Eu espero que este seja o começo de uma importante e contínua conversa.
Seu colega e servo,Brian McLaren.
Brian McLaren é autor de vários livros, dentre eles: Ortodoxia generosa, A mensagem secreta de Jesus, A igreja do outro lado e Aventuras de quem perdeu o rumo.
Fonte:www.cristianismohoje.com.br

sábado, 22 de novembro de 2008

PREFIRO NÃO SER GOSPEL

Prefiro não ser gospel



Por Carlos Roberto Martins de Souza


Li há pouco tempo um artigo sobre uma reunião do mundo “gospel” onde empresários do ramo defendiam as suas idéias sobre a conquista do mercado musical. Segundo o artigo, a reunião durou uma hora e meia, mas depois de dez minutos a vontade do autor da matéria era sair correndo, enojado com o que estava ouvindo. Falou-se de tudo em termos de “negócios gospel”. Como atingir o mercado, como produzir produtos mais atraentes, como vender o público “gospel” para as empresas seculares, como oferecer vantagens aos pastores para que eles permitissem que os produtos fossem vendidos nas igrejas, como montar shows e espetáculos, e vai por aí afora.Em momento algum, afirmou ele, ouvi algo sobre: como vamos causar um impacto com o evangelho no Brasil e no mundo; quantos novos missionários vamos sustentar com o lucro do negócio “gospel”; o que vamos fazer para ajudar as igrejas a buscarem um avivamento; como vamos tornar Jesus conhecido. A reunião foi frustrante para aquele cidadão que pensava ser o “gospel” algo mais profundo, alguma coisa que de fato fosse mudar os conceitos de cristianismo neste nosso tempo.


Quando não éramos o mercado “gospel”, comprávamos Bíblias para ler e estudar, e não para colecionar. Comprávamos CDs pela profundidade das letras e espiritualidade dos cantores, e não pela fama dos artistas. Abríamos novas igrejas para alcançar os que não conheciam a JESUS, e não por causa de uma nova “visão” que causou divisão. Cada pastor estudava a Bíblia e ouvia o Espírito Santo para pregar a cada semana, e não simplesmente reproduzia a mensagem pronta recebida do seu “bispo ou apóstolo”. No tempo em que não éramos “gospel”, pastor ainda era respeitado e podia comprar no crediário. Não tínhamos bancada evangélica na política, que segundo a imprensa, só gera escândalos. Não precisávamos de prêmios para artistas e escritores de sucesso ou para igrejas que se tornaram famosas. Não tínhamos concorrência entre artistas na busca de um troféu de “Disco de Ouro” por vendagem de discos; não tínhamos a proliferação de “Rádios Piratas” usadas para a divulgação do gênero gospel e suas atividades. No tempo em que não éramos “gospel”, o “show” ainda se chamava “louvorzão”, não cobrava ingresso e não precisava de camarote vip para os artistas. Não se gastava fortunas para a montagem de palcos para a realização de espetáculos. Não se usava maquiadores, pois nem havia camarins. Não precisava reservar hotel “cinco estrelas” para as estrelas do palco. Não se usava jogo de luz, porque a luz que brilhava era a do verdadeiro louvor. Entrevistas e autógrafos sequer eram mencionados pelos que participavam das atividades relacionadas a vida cristã. Os adoradores não precisavam de seguranças, pois estavam seguros no Mestre, não tinham uma agenda de “shows”. Não havia Hip-Hop; Street Dance; Grupos de Teatro; Pagode; Samba; Rap; Funk. Como diz um amigo meu: “e pensar que tudo começou com um jumentinho! Lá em Jerusalém”.
Conseguimos transformar Jesus em “gospel”, “fashion” e “pós-moderno”, mas ainda não conseguimos traduzir a Bíblia para todas as línguas em que ela não existe, nem reverter a corrupção neste país, nem causar um impacto transformador na sociedade. Naquele tempo o objetivo único era a adoração e o testemunho da graça e do amor de Deus. Hoje o jumentinho foi esquecido e em muitos casos foi trocado por uma tal “Eguinha Pocotó”. Isto sem nenhum exagero.


Hoje os resultados da indústria “gospel” mostram gráficos cada vez mais animadores para os empresários. Qualquer um, em qualquer lugar e usando a religião como instrumento de propaganda passou a ser “Cantor Gospel”. O mercado da fé ampliou suas fronteiras sem observar o principio basilar do cristianismo que é a ética cristã. O que se vê hoje é a lei do vale tudo em nome de Deus, mesmo que para isto o nome Dele seja explorado no comércio da fé. No entanto, no tempo em que não éramos “gospel”, os resultados para o Reino eram mais consistentes. Nesta era “gospel” nos orgulhamos de ter milhares de igrejas e milhões de crentes, mas não nos envergonhamos da “corrupção gospel”. No passado éramos adoradores, hoje somos consumidores de todo o tipo do que se intitula música no meio evangélico. Levamos para dentro de nossas igrejas qualquer coisa que faça o povão entrar em transe e se soltar nas nossas reuniões. A inspiração Divina pouco importa, o que manda é não deixar o espetáculo parar.


Orgulhamo-nos por alcançar os mais longínquos lugares e de estarmos no rádio e na TV, mas não nos envergonhamos por termos diminuído o número de missionários no Brasil e no mundo. Orgulhamo-nos de sermos governantes nos mais diversos níveis da política ou de estarmos mais próximos aos dirigentes de nossa nação para orar com eles, mas não nos envergonhamos de que um avivamento ainda não aconteceu em nossa pátria por falta de oração e quebrantamento da nossa parte. Alguém pode dizer que tudo isto é saudosismo. Éramos cristãos, hoje somos meros freqüentadores de casas de espetáculos onde quem determina o roteiro e as regras do show é o mundo com as mais absurdas ofertas de sucesso. Aliás, o sucesso é a cachaça que embriaga os que freqüentam o mundo gospel onde não faltam orgulho, vaidade, exibicionismo como conseqüências da ingestão da tal bebida.


Eu me considero um futurista, sem qualquer dificuldade para quebrar os tradicionalismos do passado. No entanto, eu penso e analiso gerações. E quando faço isto e tiro conclusões, eu vejo que a igreja evangélica brasileira se tornou grande e obesa como um elefante, mas sem agilidade para provocar transformações. Os transatlânticos estão ancorados em todas as esquinas com espetáculos que enchem os olhos, mas não o coração e a alma. Aliás, nem dentro de suas paredes ela consegue provocar mudanças. Assim, mudam-se sim a roupa, a moda, os ritmos, a forma de culto, os aparatos, mas vidas não. Ela corre o risco de girar em torno de si mesma com grande possibilidade de perder de vez o equilíbrio espiritual que já anda cambaleando. Muitas estão embriagadas como disse acima pela aguardente derivada do sucesso e produzidas nos campos agrícolas do inferno. Enquanto esta igreja moderna e cheia de vícios mundanos não acordar para um quebrantamento do Espírito, vamos nos encantar com nosso gigantismo, mas não seremos efetivos em nosso impacto, mal conseguiremos amedrontar o inimigo. Enquanto não voltarmos às raízes do cristianismo abandonando práticas impostas pelo inimigo nos veremos perdidos no oceano das incertezas e de um evangelho de formas, mas sem qualquer conteúdo. Eu prefiro não ser “gospel” no sentido em que esta palavra é usada hoje, mas sou de JESUS, creio num avivamento da igreja brasileira e sonho com o dia em que o Brasil será usado por Deus para um impacto missionário global. Sonho com vidas transformadas para o mundo e não com vidas conformadas com este mundo; sonho com igrejas impactantes e não com grupos religiosos sendo subservientes ao senhor das trevas, Satanás.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

DEVO SER MUITO CHATO

Devo ser muito chato por não gostar nem de ouvir falar desse pessoal que assume títulos de "profeta" e "apóstolo".
Devo ser muito chato por não aceitar essa coisa de tomar posse, declarar, decretar, rejeitar, determinar, restituir.
Devo ser muito chato por não admitir o G-12 nem pintado de célula ou coisa que o valha.
Devo ser muito chato por ser contra a Teologia da Prosperidade e o Triunfalismo.
Devo ser muito chato por abominar a lei da semeadura financeira.
Devo ser muito chato por ofertar na igreja sem esperar dinheiro em troca.
Devo ser muito chato por não me importar que me chamem de "frio".
Devo ser muito chato por ficar com cara feia quando escuto heresias.
Devo ser muito chato por não ficar emocionado com mais pregações sobre vitória, vitória e vitória "nesta noite".
Devo ser muito chato por me sentir desmotivado de vez em quando.
Devo ser muito chato por não apreciar esse negócio de Igreja com Propósitos.
Devo ser muito chato por não ser fã de pregadores nem cantores.
Devo ser muito chato por entender que certo "missionário" prega um anti-evangelho com sua Confissão Positiva.
Devo ser muito chato por entender que certo "bispo" não é nem cristão.
Devo ser muito chato por acreditar que a igreja não deve lançar políticos com interesse no favorecimento próprio.
Devo ser muito chato por considerar que pastor é dom, e não título de carreira.
Devo ser muito chato por não engolir aquelas "profetadas" genéricas do tipo "Deus tem uma grande obra em sua vida" ou "tem gente aqui com dor na coluna".
Devo ser muito chato por ficar entediado com aqueles cultos enormes que servem para que todo mundo tenha a oportunidade de cantar na frente.
Devo ser muito chato por gostar de interpretar a Bíblia com fé e racionalidade ao mesmo tempo, tudo junto.
Devo ser muito chato por não aceitar que me façam de burro ou de palhaço.
Devo ser muito chato por ficar com a Bíblia, e não com os homens.
Devo ser muito chato por escrever essas coisas para que todo mundo veja.
Devo ser muito chato por anunciar o Evangelho e denunciar o pecado.
Devo ser muito chato por desprezar livros de auto-ajuda disfarçados de evangélicos.
Devo ser muito chato por valorizar o estudo e a leitura, ainda que isso seja cansativo também para mim.
Devo ser muito chato por saber que sou chato e continuar chateado.
Devo ser muito chato por ter convicção de que esse texto chato edificará alguém.
Texto de Alex Esteves da Rocha Sousa, extraído do blog http://www.alexesteves.blogspot.com/

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Ainda sou do tempo

Encontrei este texto em um outro blog e resolvi postá-lo por retratar também o meu pensamento.
Ainda sou do tempo

Texto do Pastor Wagner Antonio de Araújo

Ainda sou do tempo em que ser crente era motivo de críticas e perseguições. Nós não éramos muitos, e geralmente éramos considerados ignorantes, analfabetos, massa de manobra ou gente de segunda categoria. Os colegas da escola nos marginalizavam. Os patrões zombavam de nós. A sociedade criticava um povo que cria num Deus moral, ético, decente, que fazia de seus seguidores pessoas diferentes, amorosas, verdadeiras e puras. Não era fácil. Mas nós sobrevivemos e vencemos. Sinto falta daquela perseguição, pois ela denunciava que a nossa luz era de qualidade, e ofuscava a visão conturbada de quem não era liberto. E, por causa dessa luz, muitos incrédulos foram conduzidos ao arrependimento e à salvação. Mas hoje é diferente. Ainda sou do tempo em que os crentes não tinham imagens em suas casas, em seus carros ou como adereços de seus corpos. Nós não tatuávamos os nossos corpos e nem colocávamos "piercings" em nossa pele. Críamos que os nossos corpos eram sacrifícios ao Senhor, e que não nos era lícito maculá-los com os sinais de um mundo decadente, um deus mundano e uma cultura corrompida. Dizíamos que tatuar o corpo era pecado. Não tínhamos objetos de culto em nossas igrejas. Aliás, esse era um de nossos diferenciais: nós éramos aqueles que não admitiam imagens em lugar algum. Mas hoje é diferente. Ainda sou do tempo em que pornografia era pecado. Nós não considerávamos fotos eróticas ou filmes pornô um "trabalho profissional", mas uma prostituição do próprio corpo e uma corrupção moral. Ao nos convertermos, convertíamos também os nossos olhos, e abandonávamos as revistas pornográficas, os cinemas de prostituição e os teatros corrompidos. Os que eram adúlteros se arrependiam e pagavam o preço do que fizeram, e começavam vida nova. Os promíscuos mudavam seu comportamento e tornavam-se santos em todo o seu procedimento. Nós, os adolescentes, deixávamos os namoros e os relacionamentos orientados pelos filmes mundanos, e primávamos por ser como José do Egito, que foi puro, ou o apóstolo Paulo, que foi decente. Mas hoje é diferente.

Ainda sou do tempo em que nos vestíamos adequadamente para o culto. Aliás, além do nosso testemunho moral, nós nos identificávamos pelas roupas. Se pentecostais, usávamos roupas sociais bastante formais, e éramos conhecidos aonde quer que íamos, pois ninguém mais se vestia tão formalmente assim em pleno domingo à tarde. Se de outras denominações, como eu, não chegávamos a esse extremo, mas nos trajávamos socialmente, com o melhor que tínhamos, dentro de nossas possibilidades, porque críamos que, se íamos prestar um culto a Deus, a ocasião nos exigia o melhor, e buscávamos dar o melhor para Deus. Era a famosa "roupa de culto", "roupa de igreja". Mesmo pobres, tínhamos o melhor para Deus. E sempre algo decente: camisas sociais, calças bem passadas, um sapato melhor conservado, um blaizer ou uma blusa bem alinhada. As mulheres usavam seus melhores vestidos, suas melhores saias e seus conjuntos mais femininos. Mas hoje é diferente.Ainda sou do tempo em que nossos hinos falavam de Cristo e da salvação. Cantávamos muito, e nossas músicas não eram tão complexas como as de hoje. Mas todos acabávamos por decorá-las. Suas mensagens eram simples e evangelísticas: "foi na cruz, foi na cruz", "andam procurando a razão de viver"; "Porque Ele vive, posso crer no amanhã", "Feliz serás, jamais verás tua vida em pranto se findar", "O Senhor da ceifa está chamando"; "Jesus, Senhor, me achego a ti", "Santo Espírito, enche a minha vida", "Foi Cristo quem me salvou, quebrou as cadeias e me libertou", etc. Não copiávamos os "hits" estrangeiros, ou as danças mundanas, mas buscávamos algo clássico, alegre, porém, solene. E dançar o louvor? Jamais! Não ousávamos, nem queríamos; nunca soubéramos que o louvor era "dançante"; as danças deixamos em nossas velhas vidas mundanas. Porém, mesmo não as tendo, éramos alegres e motivados. Mas hoje é diferente.

Ainda sou do tempo em que as denominações e igrejas tinham personalidade. As denominações eram poucas e bastante homogêneas. Sabíamos que a Assembléia de Deus era pentecostal e usava indumentária formal; os presbiterianos eram os melhores coristas que existiam; os adventistas tinham uma fé estranha, numa profetiza semi-contemporânea, mas tinham os melhores quartetos masculinos; os melhores solistas eram batistas, etc. Nossas liturgias eram bastante diferentes: os conservadores eram formais, seus cultos silenciosos, enquanto um orava, os outros diziam amém. Já os pentecostais oravam todos ao mesmo tempo e cantavam a Harpa Cristã. Nós nos considerávamos irmãos, não há dúvida. Mas tínhamos personalidade. Hoje tudo é diferente. E eu não sou velho! Isso tudo não tem 26 anos ainda! Na década de 80 ser crente era ser assim! Meu Deus, como o mundo mudou! Como a chamada Igreja Evangélica se deteriorou! Hoje eu sinto vergonha de ser considerado evangélico!Hoje é moda ser crente, ou melhor, "gospel". Você é artista pornô, mas é crente. Você é do forró pé-de-serra, mas é crente. Você é ladrão, mas é crente. Você é homossexual assumido, mas é crente. Não importa a profissão, o comportamento, a moral, a índole, ser crente é apenas um detalhe. Aliás, dá cartaz ser crente: hoje muitos cantores "viram crentes" pra vender seus cds encalhados, pois o "povo de Deus" compra qualquer coisa. Não há diferença entre o santo e o profano, o consagrado e o amaldiçoado, o lícito e o proibido, o justo e o injusto. Qualquer coisa serve. O púlpito pode ser uma prancha de surf, uma cama de motel ou um palanque eleitoral; a forma não importa. Ser crente é apenas um detalhe, uma simples nomenclatura religiosa. Hoje os crentes tatuam as suas peles, mesmo sabendo que a Bíblia condena o uso de símbolos e marcas no corpo de quem se consagra a Deus. Criamos nossos próprios símbolos, nossos próprios estigmas e nossas próprias tribos. Hoje há denominações que dão opções de símbolos para que seus jovens se tatuem. O "piercing" deixou de ser pecado, e passou a ser "fashion", e está pendurado na pele flácida de roqueiros evangélicos e "levitas" das igrejas, maculando a pureza de um corpo dedicado ao Deus libertador. Mulheres há que enchem seus umbigos e outras partes de pequenas ferragens, repletas de vaidade e erotismo mundano, destruindo, assim, qualquer padrão cristão de consagração corporal. Meninos tingem seus cabelos de laranja, e mocinhas destróem seus rostos com produtos, pois agora todo mundo faz, e "Deus não olha a aparência". (Ainda bem, pois se olhasse, teria ânsia de vômito...)

Hoje ir à igreja é como ir ao mercado ou às barracas de feira e de artesanato: um evento efêmero, informal, meramente turístico. Não há mais cuidado algum no trajo cultuante. Rapazes vão de bermudas, calções (e, pasmem os senhores, de sungas!), até sem camisa, porque Deus não é "bitolado, babaca ou retrógrado". Garotas usam suas minissaias dos "rebeldes" e exibem umbigos cheios de "piercings", estrelinhas e purpurinas pingando dos cabelos e roupas, numa passarela contínua do modismo eclesiástico. Se alguém ainda vai modestamente ao culto, seja jovem, seja velho, ou é "novo convertido", ou é "beato". É típico encontrarmos pastores dizendo aos "engravatados": "pra que isso, irmão? Vai fazer exame laboratorial?" E, continuamente, vão demolindo qualquer alicerce de reverência e solenidade para o ato do culto.

Hoje as nossas músicas pouco falam de Cristo. Somos bitolados por um amontoado de "glórias", "aleluias", "no trono", "te exaltamos", "o teu poder", etc. Misturamos essas expressões, colocamos uma pitada de emoções, imitamos os ícones dos megaeventos de louvores, e gravamos o nosso próprio cd, que, de diferente, tem a capa e o timbre de algumas vozes, talvez alguns instrumentos, mas, no mais, não passam de cópias das cópias das cópias. E Jesus? Ah, quase nunca o mencionamos, e, quando o fazemos, não apresentamos qualquer noção do que Ele é ou representa para o nosso louvor. Não falamos mais que Ele é o caminho, a verdade e a vida, não o apresentamos como Senhor e Salvador, não informamos ao ouvinte o que se deve fazer para tê-lo no coração, apenas citamos seu nome ou dizemos um aleluia para ele. Hoje, entrar em uma igreja é como ter entrado em todas: é tudo igual. O mesmo sistema, as mesmas cantorias, a seqüência de eventos, os rituais emocionais, as pregações da prosperidade, de libertação de maldições ou de megassonhos "de Deus" (como se Deus precisasse sonhar, como se fosse impotente ou dependente da vontade humana). Transformamos nossas igrejas em filiais de uma matriz que não sabemos nem aonde fica, mas que se representa nas comunidades da moda. Não há mais corais, não há mais solistas, não há mais escolas dominicais fortes, não há mais denominações com características sólidas, não há mais nada. Tudo é a mesma coisa: uma hora e meia de "louvor", meia hora de "ofertas" e quinze minutos de "pregação", ou meia hora de "palavra profética e apostólica". Que desgraça!

Hoje trouxemos os ídolos de volta aos templos: são castiçais, bandeiras de Israel, candelabros, reproduções de peças do tabernáculo do velho testamento, bugigangas e quinquilharias que vendemos, similares aos escapulários católicos que tanto criticávamos. Hoje não nos atemos a uma cruz sem Cristo, simbólica apenas. Hoje temos anjinhos, Moisés abrindo o Mar Vermelho, Cristo no sermão da Montanha. O que nos falta ainda?Nossas Bíblias, para serem boas, têm que ser do "Pastor fulano", com dicas de moda, culinária, negócios e guia turístico. Hoje temos Bíblias para mulheres, para homens, para crianças, para jovens, para velhos, só falta inventarmos a bíblia gay, a bíblia erótica, a bíblia do ladrão, a bíblia do desviado. Bíblias puras não prestam mais. E, mesmo tendo essas bíblias direcionadas, QUASE NINGUÉM AS LÊ! Trazemos rosas para consagrar, rosas murchas para abençoar e virar incenso em casa, sal grosso para purificar, arruda para encantar, folhas de oliveira de Israel e água do Rio Jordão (Tietê?) para abençoar, vara de Arão, de Moisés, e sabe lá de quem mais! Voltamos às origens idólatras! Parece o povo de Israel, que, ao morrer um rei justo, emporcalhavam o país com suas idolatrias e prostitutas cultuais. E se alguém ousa ser autêntico, é taxado de retrógrado. Com isso, surgem os terríveis fundamentalistas, que abominam tudo, ou os neopentecostais, que são capazes de transformar a igreja num circo, fazendo o povo rir sem parar ou grunir como animais.

Meu Deus, o que será daqui há alguns anos? Será que teremos que inventar um nome novo para ser evangélico à moda antiga? Parece que batista, assembleiano, presbiteriano, luterano ou metodista não define muita coisa mais! Será que ainda haverá púlpitos que prestem, pastores que pastoreiem, louvores que louvem a Deus? Será que seremos obrigados a usar "piercing" para nos filiarmos a alguma igreja? Será que nossos cultos serão naturistas? Será que ainda haverá Deus em nosso sistema religioso? É CLARO QUE HÁ EXCEÇÕES! E eu bendigo a Deus porque tenho lutado para ser uma dessas exceções. É claro que o meu querido leitor, pastor, louvador, membro de igreja, missionário, também tem buscado ser exceção. Mas eu não podia deixar de denunciar essa bagunça toda, esse frenesi maligno, esse fogo estranho no altar de Deus! Quando vejo colegas cuspindo no povo, para abençoá-los, quando vejo pastores dizendo ao Espírito Santo "pega! pega! pega!", como se fosse um cachorrinho, quando vejo pastores arrancando miúdos de boi da barriga dos incautos doentes que a eles se submetem, quando vejo um evangelho podre arrastando milhões, quando vejo colegas cobrando dez mil reais mais o hotel, ou metade da oferta da noite, para pregar o evangelho, então eu me humilho diante de Deus, e digo: "Senhor, me proteje, não me deixa ser assim!"

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Os pioneiros - Samuel Nystrom - parte 1



Prezados blogueiros,

Acabei de ouvir uma mensagem ministrada pelo Missionário Samuel Nystrom, gravada no cd "Memória das Assembléias de Deus" e senti o desejo de transcrever algumas informações sobre os pioneiros da nossa denominação.

Aproveitando o ímpeto da mensagem que ouvi, iniciarei pelo missionário Samuel Nystrom, muito embora, como todos sabem, não tenha sido ele o primeiro a pisar em terras brasileiras.

Samuel Nystrom (1891-1960), missionário sueco, evangelista, pastor, ensinador, escritor, pioneiro das Assembléias de Deus de Belém, Amazonas, Acre, São Paulo e Rio de Janeiro, antigo líder nacional das Assembléias de Deus no Brasil. Nasceu na Suécia em 09 de outubro de 1891, em Arsta, na cidade de Osterhaninge. Seus pais eram batistas e ele aceitou a Jesus aos 14 anos. Ao ouvir Daniel Berg falando sobre o trabalhho missionário no Brasil, durante uma pregação na Igreja Filadélfia, sentiu a chamada missionária para trabalhar no Brasil.

Em 5 de junho de 1916, na Igreja Filadélfia de Estocolmo, Samuel e Lina (sua esposa) foram separados para o trabalho missionário no Brasil. Nesse mesmo dia, também se realizou o casamento deles.

Após a cerimônia de casamento e a festa, embarcaram para Belém (PA), via Nova Iorque. Chegaram no dia 18 de agosto de 1916, encontrando cerca de 70 crentes no Estado e duzentos em todo o Brasil. Eram jovens: Samuel, com 25 anos, e Lina, com 29 anos.

Durante os 30 anos de atividades no Brasil, trabalhou como um verdadeiro apóstolo, ajudando a lançar e consolidar os fundamentos doutrinários das Assembléias de Deus no Brasil. Exercia grande liderança espiritual e eclsiástica entre os missionários e pastores nacionais.

Talvez o leitor estaja se perguntando: qual a relação entre Samuel Nystrom e a Escola Bíblica Dominical, assunto principal deste blog? Ora, a relação é bastante estreita. O missionário Samuel Nystrom faz parte da história da Escola Bíblica Dominical no Brasil, especialmente na Assembléia de Deus.

As primeiras lições da Escola Bíblica Dominical foram escritas por Samuel Nystrom e impressas no jornal Boa Semente (primeiro jornal oficial das Assembléias de Deus no Brasil). O jornal foi fundado em dezembro de 1918 e circulou até o ano de 1930, quando, em fusão como o jornal o Som Alegre, eram origem ao Mensageiro da Paz.

Voltando à mensagem que ouvi, algo me chamou a atenção. Como nossos pioneiros eram apaixonados por almas. Como suas mensagens eram simples e cristocêntricas. Eles pregavam a Cristo e este crucificado. Queriam apenas levar os ouvintes ao arrependimento, à confissão dos pecados, à restauração, justificação, regeneração e santificação. Eles não queriam os olofotes, a fama, as "ofertas", os hotéis de luxo (até porque acho que nem existiam), os carrões importados, as mansões, etc. Eles queriam almas! Eles queriam o crescimento da igreja não para sugar a gordura das ovelhas, mas para arrebatarem as almas do inferno.

Confesso que estou cansado destes novos "pregadores". Estes mesmos que cobram fortunas e fazem uma lista imensa de reinvidicações para pregar nas igrejas. E o resultado? Quase sempre ninguém se converte porque eles não fazem mais apelos aos pecadores. Preferem chamar o povão para frente do púlpito e colocar um cantor para cantar. Isso dá mais "ibope". Deus manifesta o seu "poder". Até quando?

A recomendação de Paulo em 2Co 11.3 é bastante válida para os nossos dias: " Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo."

Não nos apartemos da simplicidade que há em Cristo, mas, como os nossos pioneiros, e nesta postagem deixo o exemplo de Samuel Nystrom, possamos viver e pregar este Evangelho simples e poderoso.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

ESTOU DE VOLTA!

Prezados blogueiros, estou de volta!

Após a criação deste blog e de apenas duas postagens, ausentei-me, por diversos motivos.

O primeiro semestre deste ano foi bastante "puxado". Aulas e mais aulas, fórum, construção, além das inúmeras atividades na igreja que, a despeito do cansaço físico são um refrigério.

Não existe nada melhor do que cumprir o ministério que recebemos de Deus. Quando utilizamos os dons e os talentos que Deus nos deu com a convicção de que estamos fazendo aquilo que o Senhor colocou em nossas mãos para fazer, sentimo-nos realizados.

Aproveitei o meu retorno para mudar a "cara" do blog. Acredito que ficou bem melhor do que o layout anterior.

Espero postar pelo menos uma vez por semana, mas não prometo. Aqueles que me conhecem mais de perto sabem que minha vida é um pouco corrida.

Recomendo a todos os blogs da minha lista de favoritos.

E não esqueçam de responder a enquete.

Um grande abraço a todos!